terça-feira, 29 de julho de 2008

Poesia brasileira, aqui.

"A forma ousada dos seus versos, de um ritmo livre e bastante pessoal, harmoniza-se com a liberdade de inspiração, onde predomina um forte sensualismo, tão forte que Humberto de Campos notava-lhe nos poemas verdadeiras 'tempestades de carne'... Seus livros provocavam, simultaneamente, admiração e escândalo, já que a poetisa confessava sentir pêlos no vento', desejava penetrar o amado 'pelo olfato, assim como as espiras/invisíveis do aroma...' e declarava, sem rebuços: 'Eu sinto que nasci para o pecado'."

"(...) Gilka Machado foi a maior figura feminina de nosso Simbolismo, em cuja ortodoxia se encaixa com seus dois livros capitais, Cristais Partidos e Estados de Alma. Nem sua ousadia tinha impureza, mas punha à mostra a riqueza de seus sentidos, especialmente de um pouco explorado em poesia, o tato. Sua sensibilidade é requintada, algo excêntrica, mas profundamente feminina."



Baú de Guardados

Pelos caminhos da vida
fechei os olhos às coisas feias,
porém as belas guardei-as
no meu baú de guardados

Por certo ninguém pressente,
vendo sempre vazios
meus braços,
o que conduzem
meus passos
neste baú de guardados

E vou resgatando
em penas,
ai! como venho pagando
em choros
os pequeninos tesouros
do meu baú de guardados


Gilka Machado

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sexta-feira, 18 de julho de 2008

Uma poetisa potiguar

Auta de Sousa

- "A poetisa mística do Brasil", nasceu e morreu no Rio Grande do Norte.

Simbolista, como seu irmão HenriqueCastriciano de Sousa.

Alma delicada e mística.

Segundo relato de Luís da Câmara Cascudo,

amou em silêncio e morreu tuberculosa aos 25 anos de idade,

depois de pedir: "Moças, não contem que eu vou morrer!"

Seu excelente livro de versos "Horto", de 1900, foi prefaciado por Olavo Bilac, tendo sido publicada,

do mesmo, em 1936, uma outra edição, prefaciada por Alceu Amoroso Lima.

Auta de Sousa, que não tem a popularidade de fato merecida, é autora dentre outros, do soneto "Lágrimas":

Apresentamos agora, mais um dos seus belos sonetos, de Auta de Sousa,

"O beija-flor":


Foto: Galvão Maldonado



O BEIJA-FLOR

Acostumei-me a vê-lo todo o dia
De manhãzinha, alegre e prazenteiro,
Beijando as brancas flores de um canteiro
No meu jardim - a pátria da ambrosia.


Pequeno e lindo, só me parecia
Que era da noite o sonho derradeiro...
Vinha trazer às rosas o primeiro
Beijo do Sol, n’essa manhã tão fria!


Um dia, foi-se e não voltou... Mas, quando
A suspirar, me ponho contemplando,
Sombria e triste, o meu jardim risonho...


Digo, a pensar no tempo já passado;
Talvez, ó coração amargurado,
Aquele beija-flor fosse o teu sonho!


Auta de Sousa


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sexta-feira, 11 de julho de 2008

Nostalgia.

Nostaugia...bateu a minha porta e contemplando o córrego da vida, vi surgir a esperança entre os grãos de areia... Fernando Pessoa veio e trouxe essa poesia, vejam!.

Foto: Izelda Maia


Sossega, coração! Não desesperes!

    Sossega, coração! Não desesperes!
    Talvez um dia, para além dos dias,
    Encontres o que queres porque o queres.
    Então, livre de falsas nostalgias,
    Atingirás a perfeição de seres.

    Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
    Pobre esperença a de existir somente!
    Como quem passa a mão pelo cabelo
    E em si mesmo se sente diferente,
    Como faz mal ao sonho o concebê-lo!


    Sossega, coração, contudo! Dorme!
    O sossego não quer razão nem causa.
    Quer só a noite plácida e enorme,
    A grande, universal, solente pausa
    Antes que tudo em tudo se transforme.


    Fernando Pessoa, 2-8-1933.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Poesia em todo canto.

Estava eu, navegando por esta maravilha que é glogosfera, e deparei-me com mais um blog de poesias onde encontrei mais um dos belos poemas de Drummond, e confesso não resisti, copiei e trouxe para as areias deste córrego, para todos nós que gostamos de tudo que nos fala de poesia encher as nossas almas com mais um poema de amor.


Foto: Carlinhos Medeiros


Amor antigo

O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige, nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.


Carlos Drummond de Andrade(Amar se aprende amando)
 

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