quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

...saudades de minha sogra querida...

Queridos amigos, amigas e visitantes do córrego de areia, depois do “vendaval” de Fernando Pessoa, e que literalmente estamos passando em nossas vidas com a perda irreparável de uma das pessoas mais querida para nós. Estou aqui com o coração pesado de saudades para fazer a ela, que nos deixou tão repentinamente, uma singela homenagem, dedicando-lhe esta poesia.

A foto também é uma homenagem, já que esta paisagem fez parte de sua vida. Um dos lugares que mais gostava, por ter vivido ali boa parte de sua infância.



Sai a passeio


Sai a passeio, mal o dia nasce,

Bela, nas simples roupas vaporosas;

E mostra às rosas do jardim as rosas

Frescas e puras que possui na face.


Passa. E todo o jardim, por que ela passe,

Atavia-se. Há falas misteriosas

Pelas moitas, saudando-a respeitosas...

É como se uma sílfide passasse!


E a luz cerca-a, beijando-a. O vento é um choro

Curvam-se as flores trêmulas... O bando

Das aves todas vem saudá-la em coro...


E ela vai, dando ao sol o rosto brando.

Às aves dando o olhar, ao vento o louro

Cabelo, e às flores os sorrisos dando...


Olavo Bilac (canto XIX, Via Láctea)



Quero aproveitar para desejar a todos e todas um FELIZ ANO NOVO!

Que cada dia de 2008, seja vivido com muitas alegrias, paz, prosperidade e realizações.

Que o mundo tenha menos violência, e que as pessoas sejam mais fraternas e solidárias...

Izelda Maia

domingo, 9 de dezembro de 2007

Vendaval

Hoje trago ao córrego de areia o grande poeta português FERNANDO PESSOA, que em sua primorosa poesia nos remete a uma introspecção de pensamentos e sentimentos.


Foto by: Izelda Maia



Vendaval

Ó vento do norte, tão fundo e tão frio,

Não achas, soprando por tanta solidão,

Deserto, penhasco, coval mais vazio

Que o meu coração!


Indômita praia, que a raiva do oceano

Faz louco lugar, caverna sem fim,

Não são tão deixados do alegre e do humano

Como a alma que há em mim!


Mas dura planície, praia atra em fereza,

Só têm a tristeza que a gente lhes vê

E nisto que em mim é vácuo e tristeza

É o visto o que vê.


Ah, mágoa de ter consciência da vida!

Tu, vento do norte, teimoso, iracundo,

Que rasgas os robles - teu pulso divida

Minh'alma do mundo!


Ah, se, como levas as folhas e a areia,

A alma que tenho pudesses levar -

Fosse pr'onde fosse, pra longe da idéia

De eu ter que pensar!


Abismo da noite, da chuva, do vento,

Mar torvo do caos que parece volver -

Porque é que não entras no meu pensamento

Para ele morrer?


Horror de ser sempre com vida a consciência!

Horror de sentir a alma sempre a pensar!

Arranca-me, é vento; do chão da existência,

De ser um lugar!


E, pela alta noite que fazes mais'scura,

Pelo caos furioso que crias no mundo,

Dissolve em areia esta minha amargura,

Meu tédio profundo.


E contra as vidraças dos que há que têm lares,

Telhados daqueles que têm razão,

Atira, já pária desfeito dos ares,

O meu coração!


Meu coração triste, meu coração ermo,

Tornado a substância dispersa e negada

Do vento sem forma, da noite sem termo,

Do abismo e do nada!


Fernando Pessoa, 16-2-1920

 

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