quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

...saudades de minha sogra querida...

Queridos amigos, amigas e visitantes do córrego de areia, depois do “vendaval” de Fernando Pessoa, e que literalmente estamos passando em nossas vidas com a perda irreparável de uma das pessoas mais querida para nós. Estou aqui com o coração pesado de saudades para fazer a ela, que nos deixou tão repentinamente, uma singela homenagem, dedicando-lhe esta poesia.

A foto também é uma homenagem, já que esta paisagem fez parte de sua vida. Um dos lugares que mais gostava, por ter vivido ali boa parte de sua infância.



Sai a passeio


Sai a passeio, mal o dia nasce,

Bela, nas simples roupas vaporosas;

E mostra às rosas do jardim as rosas

Frescas e puras que possui na face.


Passa. E todo o jardim, por que ela passe,

Atavia-se. Há falas misteriosas

Pelas moitas, saudando-a respeitosas...

É como se uma sílfide passasse!


E a luz cerca-a, beijando-a. O vento é um choro

Curvam-se as flores trêmulas... O bando

Das aves todas vem saudá-la em coro...


E ela vai, dando ao sol o rosto brando.

Às aves dando o olhar, ao vento o louro

Cabelo, e às flores os sorrisos dando...


Olavo Bilac (canto XIX, Via Láctea)



Quero aproveitar para desejar a todos e todas um FELIZ ANO NOVO!

Que cada dia de 2008, seja vivido com muitas alegrias, paz, prosperidade e realizações.

Que o mundo tenha menos violência, e que as pessoas sejam mais fraternas e solidárias...

Izelda Maia

domingo, 9 de dezembro de 2007

Vendaval

Hoje trago ao córrego de areia o grande poeta português FERNANDO PESSOA, que em sua primorosa poesia nos remete a uma introspecção de pensamentos e sentimentos.


Foto by: Izelda Maia



Vendaval

Ó vento do norte, tão fundo e tão frio,

Não achas, soprando por tanta solidão,

Deserto, penhasco, coval mais vazio

Que o meu coração!


Indômita praia, que a raiva do oceano

Faz louco lugar, caverna sem fim,

Não são tão deixados do alegre e do humano

Como a alma que há em mim!


Mas dura planície, praia atra em fereza,

Só têm a tristeza que a gente lhes vê

E nisto que em mim é vácuo e tristeza

É o visto o que vê.


Ah, mágoa de ter consciência da vida!

Tu, vento do norte, teimoso, iracundo,

Que rasgas os robles - teu pulso divida

Minh'alma do mundo!


Ah, se, como levas as folhas e a areia,

A alma que tenho pudesses levar -

Fosse pr'onde fosse, pra longe da idéia

De eu ter que pensar!


Abismo da noite, da chuva, do vento,

Mar torvo do caos que parece volver -

Porque é que não entras no meu pensamento

Para ele morrer?


Horror de ser sempre com vida a consciência!

Horror de sentir a alma sempre a pensar!

Arranca-me, é vento; do chão da existência,

De ser um lugar!


E, pela alta noite que fazes mais'scura,

Pelo caos furioso que crias no mundo,

Dissolve em areia esta minha amargura,

Meu tédio profundo.


E contra as vidraças dos que há que têm lares,

Telhados daqueles que têm razão,

Atira, já pária desfeito dos ares,

O meu coração!


Meu coração triste, meu coração ermo,

Tornado a substância dispersa e negada

Do vento sem forma, da noite sem termo,

Do abismo e do nada!


Fernando Pessoa, 16-2-1920

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Retornando...

Depois de algum tempo sem alimentar a veia deste córrego, trago-lhes, o que para mim é um verdadeiro achado no acervo literário contemporâneo brasileiro, o poeta mineiro autor do livro “Matéria Bruta”.
Tive a oportunidade de ler algumas de suas poesias e esta é uma das que mais gostei.



"quantos antros e destinos me ataram
pelo avesso da ilha
mágicas só revertem a metade das noites
que as outras são concretos.

quantos avos e destinos me atormentara
o rosto e o osso;
curvei-me a todos para estar perfeito.

a todos busquei ver como água e pedra:
como o olho, retalhei-lhes as faces
o contíguo dos lábios.

pólvoras deixaram meu corpo em frangalhos.
mas atei-lhes os nós e os pedaços
como quem range à utopia.
fiz ver que vales e montanhas são nacos da vida
no fôlego quente da espécie.

quando surgi de mim, fiquei varrido
e meu estado de coisa correu solto".


Romério Rômulo – Matéria Bruta

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Ausente por algums dias...

Estimadas(os) amigas(os) e visitantes, estou ausente já faz alguns dias e devo continuar por mais tempo, creiam, por motivos alheios à minha vontade.
Assim que puder voltarei à interegir com todos vocês.
Um grande abraço e até breve, espero...!

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Liberdade




Uma canção de autoria de Carlinhos Medeiros em resposta ao diatribe da revista Veja sobre Che Guevara.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Crianças...

Hoje, no Brasil se comemora o dia das crianças, e em homenagem a essa tão importante fase na vida de cada pessoa, vou dedicar este post às crianças do mundo inteiro.

Vi nesta poesia de Tuth Rocha, o quanto precisamos dá mais atenção aos nossos pequeninos..


O Direito das Crianças
Ruth
Rocha


Toda criança do mundo
Deve ser bem protegida
Contra os rigores do tempo
Contra os rigores da vida


Criança tem que ter nome
Criança tem que ter lar
Ter saúde e não ter fome
Ter segurança e estudar.

Não é questão de querer
Nem questão de concordar
Os diretos das crianças
Todos tem de respeitar.

Tem direito à atenção
Direito de não ter medos

Direito a livros e a pão
Direito de ter brinquedos.


Mas criança também tem
O direito de sorrir.
Correr na beira do mar,
Ter lápis de colorir...

Ver uma estrela cadente,
Filme que tenha robô,
Ganhar um lindo presente,
Ouvir histórias do avô.

Descer do escorregador,
Fazer bolha de sabão,
Sorvete, se faz calor,
Brincar de adivinhação.

Morango com chantilly,
Ver mágico de cartola,
O canto do bem-te-vi,
Bola, bola,bola, bola!


Lamber fundo da panela
Ser tratada com afeição
Ser alegre e tagarela
Poder também dizer não!

Carrinho, jogos, bonecas,
Montar um jogo de armar,
Amarelinha, petecas,
E uma corda de pular.

Um passeio de canoa,
Pão lambuzado de mel,
Ficar um pouquinho à toa...
Contar estrelas no céu...

Ficar lendo revistinha,
Um amigo inteligente,
Pipa na ponta da linha,
Um bom dum cahorro-quente.


Festejar o aniversário,
Com bala, bolo e balão!

Brincar com muitos amigos,
Dar pulos
no colchão.

Livros com muita figura,
Fazer viagem de trem,
Um pouquinho de aventura...
Alguém para querer bem...

Festinha de São João,
Com fogueira e com bombinha,
Pé-de-moleque e rojão,
Com quadrilha e bandeirinha.

Andar debaixo da chuva,
Ouvir música e dançar.
Ver carreiro de saúva,
Sentir o cheiro do mar.


Pisar descalça no barro,
Comer frutas no pomar,
Ver casa de joão-de-barro,
Noite de muito luar.

Ter tempo pra fazer nada,
Ter quem penteie os cabelos,
Ficar um tempo calada...
Falar pelos cotovelos.

E quando a noite chegar,
Um bom banho, bem quentinho,
Sensação de bem-estar...
De preferência um colinho.


Embora eu não seja rei,
Decreto, neste país,
Que toda, toda criança
Tem direito de ser feliz!

E quando a noite chegar,
Um bom banho, bem quentinho,
Sensação de bem-estar...
De preferên
cia um colinho.


Uma caminha macia,
Uma canção de ninar,
Uma história bem bonita,
Então, dormir e sonha
r...

Embora eu não seja rei,
Decreto, neste país,
Que toda, toda criança
Tem direito a ser feliz!


-----------

Fotos por: Izelda Maia

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

"tudo é poesia"

Sempre gostei dos poetas independentes e anônimos. Alias, dos artistas num modo geral que não tem oportunidade de publicar seus trabalhos em grandes veículos ou editoras e por isto, apresento-lhes neste poema abaixo o Ray Lima, um grande amigo de artes e de lutas. Espero que gostem, fiquem com Deus e bom fim de semana.


A ALGUMAS QUADRAS DE MIM


Ao passar por entre tudo vi
que o tudo não existe.
Procurei dele fugir, não pude.
Fiquei alegre e triste


Adoçando a ilusão dos outros
vou entretendo a ilusão que é minha
E nessa trilha de ilusão há ilusão.
A vida abarca uma extensão infinda.


E se tem fim esse caminho torto
não me confiei conhecer ainda;
ou minhas passadas tão curtas se fizeram
que não me foi possível atingir o porto.


Mas se tal porto é ponto de partida
e de chegada, como queira o quero,
então não chego a sair do quarto,
apenas sinto a rotação do cérebro.


(Livro: Tudo é Poesia de Ray Lima)

Clikando as flores...

Gosto muito de fotos, principalmente as de paisagens naturais. Portanto, sair por aí fotografando é uma verdadeira terapia, esqueço do mundo... e vez em quando pego a câmera e saio à fotografar... fotografar...
Outro dia sai mirando todas as flores que encontrei, clik, clik, clik, o resultado, vejam baixo:














Fotos por: Izelda Maia

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

POESIA...

"A poesia é a arte de comunicar a emoção humana pelo verbo musical", (René Waltz, apud Massaud Moisés).

Os poemas são textos que nos provocam sentimentos, impressões, emoções e reflexões.
As palavras revestidas de poesia nos revela a profunda sensibilidade da alma do poeta.


Poetas

Ai as almas dos poetas
Não as entende ninguém;
São almas de violetas
Que são poetas também.

Andam perdidas na vida,
Como as estrelas no ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!

Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas

E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma pra sentir
A dos poetas também!

(Florbela Espanca)

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Frases da Blogosfera...

Aqui reúno algumas frases interessantes de blogs que costumo visitar.

Um feliz fim de semana a todas e a todos.


QUERUBIM PEREGRINO
"No comboio da vida que nos transporta, muitas são as paragens de enganos e desenganos. O Querubim Peregrino vela, em todas as paragens, pela Paz, pelo Sonho e pela Poesia da Vida.”
Maria Faia


XANGRILAH
“Mulher para quem escrever Poesia é tão importante como respirar.”
Maria Mamede


WAIPUEDUCA
“La nostra particular visió de la vida: un català a qui li encanta Veneçuela, una veneçolana parlant de Catalunya i tots dos parlant del món.’

“El llaç verd, del color de la vida i l’esperança. Salvem el nostre clima!”
Joan e Carolina



VIVER UM NOVO FIM

“Muitas coisas se aprendem nestas comunicações com outros blogs, espero que eu possa comunicar-lhe a Vivre la vrai Vie”
Viver um novo fim


BODEGA CULTURAL
“Ao mundo bastaria um tratado de não-agressão universal. No lugar das Forças Armadas, forças amadas, no lugar da armas, amadas flores.”
O Moço da Bodega



Momentos & Documentos

“O que importa é transformar o mundo - A Blogosfera é o nosso meio!”
Ludovicus Rex


LA MÁ MARIA
“Relat's satírics-lúdics, per divertiment de grans i petits”
Te la Má Maria – Réus


Troca de palavras
“Uma cidadã do mundo”
Pekena


SÓ VERDADES
“Um homem que entende a morte ser a coisa mais justa que ao ser humano pode acontecer, pois não se deixa comprar.”
David Santos


Réstia de Sol
“uma moça simples e mais nada...”
Laura



O PROFETA
“Entre o mar e o céu, vive o Profeta. Entre a Loucura e a Razão, entre o Azul e o Verde, entre Amor e a Paixão, duas simples verdades ao fundo de cada coração.”
O Profeta



NETMITO
“Das límpidas águas dos meus sonhos, imortalizei cada gota e nasci no chão que pisei... quem sou eu... nem eu sei...”
Netmito


Neurótica.com
“Mais uma mulher quarentona e seus pontos de vista convencionais... ou não.”
Regina Romão


CAFÉ COM POESIA
“Sou alguem que muitas vezes completa-se ao ler uma lindo poema!
Thaíse


Coisas de uma Diva
"A alegria é uma conquista diária, ninguém a possui em definitivo. "
Lorena


BLOG DO BOURDOUKAN
“Enquanto houver um explorado e um oprimido não haverá paz”
Georges Bourdoukan

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Assim como as borboletas...


Amigas e amigos do Córrego de Areia, adorei este poema do célebre Drumond, que recebi de uma amiga, e que tem o poder de nos fazer refletir e renovar às forças para continuarmos a jornada e fazermos as transformações necessárias ao longo do caminho.
Um feliz fim de semana a todas e a todos.


Não importa onde você parou...
em que momento da vida você cansou...
o que importa é que sempre é possível e necessário "recomeçar".
Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo...
é renovar as esperanças na vida e o mais importante...
acreditar em você mesmo de novo!!
Sofreu muito nesse período...?
Foi aprendizado...
Chorou muito?
Foi limpeza da alma...
Acreditou que tudo estava perdido?
Era o início da tua melhora...
Tá se sentindo sozinho? Besteira...
tem tanta gente que você afastou com o seu "período de isolamento"...
Tem tanta gente esperando um sorriso seu para "chegar" até você.
Quando nos trancamos na tristeza...
nem mesmo, nós mesmos, nos suportamos, ficamos horríveis...
o mal humor vai comendo nosso fígado, até a boca fica amarga.
Recomeçar...
hoje é um bom dia para começar novos desafios.
Onde você quer chegar?
Ir alto... sonhe alto... queira o melhor do melhor...
Se pensamos pequeno... coisas pequenas teremos, já,
se desejarmos fortemente o melhor
e principalmente lutarmos pelo melhor,
o melhor vai se instalar na nossa vida.
E hoje é o "dia da faxina mental"...
Joga fora tudo que te prende ao passado,
ao mundinho de coisas tristes, fotos...
peças de roupas... papel de bala... ingressos de cinema...
bilhetes de viagens...
e toda aquela tranqueira que guardamos quando nos "julgamos apaixonados"...
jogue tudo fora... mas principalmente... esvazie seu coração...
fique pronto para a vida, para um novo amor...
LEMBRE-SE: somos apaixonáveis!!!
Somos sempre capazes de amar muitas e muitas vezes...
afinal de contas... nós somos o AMOR!!!
"Porque sou do tamanho daquilo que vejo e não do tamanho da minha altura."

(Carlos Drumond de Andrade)

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Todos os caminhos...

Primeiro quero me desculpar aos amigos e visitantes do Córrego de Areia, por não estar retribuindo da mesma forma o carinho das visitas e comentários aqui dispensados. Creiam, é tão somente as atribulações da vida... Mas suas presenças através dos "versos" (comentários), são alimento da minh 'alma, enchendo-me de alegria o carinho e amizade de todos. Depois gostaria de dedicar a vocês esta belíssima poesia da portuguesa Maria Mamede, que tive o prazer de conhecer através do seu blog Xangrilah, que eu recomendo à toda alma amante da poesia.


INTEMPORAL

Venho da lonjura dos caminhos
a desafiar passados...
venho da turba que passa
das ondas dos trigais
dos pés andarilhos
dos passos ritmados do tempo
que me empoeira de estrelas...
venho nos ventos
nas brisas murmurantes
nas auroras de luz
nos ocasos de cor
no olor das rosas...
e caminho
incessantemente
uma e outra vez
pelos córregos estreitos
dos peitos em dor...
venho por mim
e por ti
meu amor, meu irmão
enquanto puder ser
estrela guia
e ponte
atravessando abismos...
e há quantos passados te espero!
Há quantos futuros te anseio!
Venho
da lonjura dos caminhos
só para te pegar pela mão!...


Maria Mamede

domingo, 12 de agosto de 2007

Camões

Resolvi postar no córrego de areia algo sobre CAMÕES, considerado o "PAI dos Poetas", o maior gênio da língua portuguesa pelo seu eruditismo. Sua obra é um verdadeiro legado literário para o mundo.

"Luís Vaz de Camões
(cerca de 152410 de Junho de 1580) é frequentemente considerado como o maior poeta de língua portuguesa e dos maiores da Humanidade." (Wikipédia)

"As armas e os barões assinalados
Que, da ocidental praia lusitana,
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo reino, que tanto sublimaram.
(...)
Cantando espalharei por toda a parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte"

Camões, Lusíadas, Canto I.
Estátua do poeta na praça Luis de Camões, ao Bairro Alto em Lisboa.


E este soneto:


Amor, que o gesto humano n' alma escreve


Amor, que o gesto humano n' alma escreve,
vivas faíscas me mostrou um dia,
donde um puro cristal se derretia
por entre vivas rosas e alva neve.

A vista, que em si mesma não se atreve,
por se certificar do que ali via,
foi convertida em fonte, que fazia
a dor ao sofrimento doce e leve.

Jura Amor que brandura de vontade
causa o primeiro efeito; o pensamento
endoudece, se cuida que é verdade.

Olhai como Amor gera num momento,
de lágrimas de honesta piedade,
lágrimas de imortal contentamento.


(Camões)

Se você também gosta e conhece a obra de Camões, deixe aqui o seu verso preferido.

Uma feliz semana à todas e à todos os navegantes da globosfera.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Algumas fotos que fiz outro dia...

Hoje, apesar do sol brilhante lá fora, parece que o mundo está nublado... não sei, estou melancólica, sei lá. Me sinto um pouco estranha, não sei...!

O pássaro solitário...


A praça sem
movimento...

Não sei...

Esperar?
Talvez...


O que faço?

Um espiral parado!?

É um símbolo, ou um sinal?

Não sei... cansaço? Talvez.

Fotos por: Izelda Maia

Es-pe-ran-ça e poesia...

Eu fico encantada ao ler Mário Quintana, para mim seus poemas são mágicos, ao mesmo tempo que nos remete a realidade, conseguimos viajar na poesia.


Esperança


Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...


Mário Quintana


Texto extraído do livro "Nova Antologia Poética", Editora Globo - São Paulo, 1998, pág. 118

UM HOMEM MEIA BANDA

Sou um homem meia banda.
Sempre lutei pelas coisas que para mim
por mais simples que pudessem parecer, tinham (e tem)
valores imensuráveis.

Um animal ferido e desnutrido...
um pássaro, o seu canto... Um simples jardim.

Oh, Deus! Eu plantei tantos!
Reguei com tanto amor, carinho e tão delicadamente
retirei os predadores naturais de suas folhas, com o cuidado
necessário para não quebrar seus galhinhos tão frágeis,
nem destruir suas flores ainda tão por vir.

Uma criança, uma poesia... Uma canção... Um sorriso.
Uma árvore, um pardal... Um lago...Um rio.
O natal, o ano novo, um amigo, um peito abrigo...

Sou um homem meia banda.

Porque uma das coisas mais simples e tão comum
ao mais reles ser mortal, e que para mim
tem um valor inestimável, não tenho mais...

Família!

Lutei tanto para construir um ninho...
Noites acordado às vezes cantando (outras chorando), de dia trabalhando no afã de dá-lhes uma vida melhor - a que eu não tive.

Sou só!

E procuro em mim, toda a responsabilidade
por isso, da forma que tantas vezes foi pregado,
e só encontro... Lágrimas?

Mas ainda tenho a dádiva de poder abrir os olhos
e contemplar o passado e a saudade, no horizonte distante
e solitário de um pôr-do-sol melancólico.

Deus em sua fúria desumana,
não apagou minha memória e nem tão pouco tirou de mim a possibilidade inalienável de amar.

Por favor, filhos.
Estejam mais presentes na vida de seus pais, mesmo
que não coabitem juntos.

Por favor, pais.
Sejam menos ausentes na vida dos
seus filhos.

Para que não aconteça que chegando sorrateiramente
“a senhora morte" e nos entrelaçando com seus braços
infinitos, não nos arrependamos de não termos tido mais tempo...

Para dizer: - oi!

“Eu sei da tua dor e não vou compará-la
a dor nenhuma e nem tampouco
tentar minimizar o que sentes.
Somente sinto-a em mim”.

- Perdão!

- Estou aqui!

- Te amo!

- Você, é muito importante para mim, e eu
me importo muito com você.

Amigos (as)
Larguem tudo que estiverem fazendo agora e voltem pra casa, dêem um abraço em seu pai, um beijo em sua mãe e digam aos seus irmãos: “eu amo muito todos vocês!”


sexta-feira, 27 de julho de 2007

Sophia Anderson

Hoje quando acessei meu blog tive a grata surpresa de algumas visitas, dentre elas, a de uma amiga (virtual) de Portugal, que deixou um verso (comentário) onde cita alguns nomes da literatura portuguesa. Um desses nomes, Sophia Anderson, escritora e poetisa que há pouco partiu, mas que nos deixou belíssimos contos e poemas, é uma das minhas preferidas.


Poesia

Se todo o ser ao vento abandonamos
E sem medo nem dó nos destruímos,
Se morremos em tudo o que sentimos
E podemos cantar, é porque estamos
Nus em sangue, embalando a própria dor
Em frente às madrugadas do amor.
Quando a manhã brilhar refloriremos
E a alma possuirá esse esplendor
Prometido nas formas que perdemos.

Aqui, deposta enfim a minha imagem,
Tudo o que é jogo e tudo o que é passagem.
No interior das coisas canto nua.

Aqui livre sou eu — eco da lua
E dos jardins, os gestos recebidos
E o tumulto dos gestos pressentidos
Aqui sou eu em tudo quanto amei.

Não pelo meu ser que só atravessei,
Não pelo meu rumor que só perdi,
Não pelos incertos atos que vivi,

Mas por tudo de quanto ressoei
E em cujo amor de amor me eternizei.

(Sophia Anderson)


E em homenagem a minha amiga PEKENA e a todos os filhos e filhas de Portugal, faço este post com uma das mais belas poesias que já li nos últimos tempos.

Um fim de semana cheio de alegrias... Abraços e flores!

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Nossa língua.

Antonio Figueiras Lima poeta e educador cearense, nascido em 1909 e falecido em 1965. Autor de vários livros e de valiosíssimas contribuições à área da educação no Estado do Ceará, faz neste poema um homenagem aos diferentes sotaques e dialéticos da língua portuguesa brasileira.


LÍNGUA NACIONAL

Língua dos canoeiros e seringueiros da Amazônia,
florindo em sonoros vocábulos indígenas,
cantando na insistência das vogais:
uiara... pororoca... uirapuru...
Língua dos vaqueiros românticos do Piauí,
enchendo as grotas de aboios tristes e longos:
ecôôô... mansôôô...
Língua rimada, dos violeiros do Ceará,
língua cantada de todo o povo do Ceará!
Língua dos engenhos de açúcar de Pernambuco e
Alagoas,
doce, na ternura, como um rolete de cana,
forte, no insulto, como um trago de aguardente.
Língua piedosa da Bahia de Todos os Santos,
que é também a língua das mandingas de Jubiabá,
língua dengosa da baiana que tem tudo
e apimentada como vatapá.
Língua carioca, mistura de todas as línguas,
mosaico de todos os idiomas que há no mundo.
Língua dos garimpeiros de Minas Gerais,
faiscantes de jóias e de pedrarias!
Língua sintética dos homens-dínamos de São Paulo,
exuberante de força, de serva e de energia!
Límgua dos pampas infinitos,
cheia de hipérboles e imagens,
insubmissa e viril como um potro selvagem.
Língua que o gaúcho libérrimo fez à sua imagem...
Língua em que todas as mães brasileiras ninam
seus filhos,
em que todos os lavradores nordestinos pedem chuvas
a Deus,
em que todos os desgraçados encontram palavras de
consolação...
Língua ardente, cantante, exuberante, original...
Língua da minha gente do Norte e do Sul!
Língua Nacional!


Antonio Filgueiras Lima


sexta-feira, 13 de julho de 2007

(in) cômodos

Ontem estive em minha terra natal visitando meus familiares, e ao voltar para casa comecei a relembrar o passado: a casa dos meus pais, dos tios e primos, lá no Córrego de Areia , onde vivi minha infância. Nessas lembranças, veio-me à mente, uma prima que há tempos não vejo e que quando criança adorava desenhar e escrever poesias. Resolvi fazer uma busca na internet de algum trabalho seu, e eis aqui o resultado da pesquisa:


(in) cômodos

A saudade não cabe
nessa casa de tão grandes cômodos.
Nunca vivi aqui e a tenho,
do que poderia ter sido.
Uma manhã, um café, um carinho.
Um cavalo amarrado na árvore
trazendo noticias de um mundo
que não existiu para mim.
Um mundo aprisionado nos retratos
de moldura oval, quase sem sorrisos.
Em continência diante da vida
que passou, como também passará.

A tia bisavó parece frágil e triste
E seu retrato de moldura oval
precisa de urgentes reparos.
Sua lembrança, quase apagada
pela umidade do inverno
pelos que foram embora.
Mas eu estou aqui
trago um sorriso
meio condolente, alguns genes
sei quem é você. E por isso
não estais mais sozinha

Arlene Holanda

Quantas saudades...

quinta-feira, 5 de julho de 2007

E por falar em poesia...

A poesia é algo que sempre me atraiu, desde criança gostava de ler versos, principalmente os de poesia popular nordestina, os poemas de cordel, como são popularmente conhecidos.
Mas foi na adolescência que realmente conheci o maravilhoso mundo da literatura poética e seus encantos... Certo di
a ganhei de uma amiga um livro de poesias, a maioria delas eram sonetos. Fiquei maravilhada e foi aí que me apaixonei pelos sonetos. O livro era “Meu céu Interior” de J. G. de Araújo Jorge, poeta acreano que escreveu vários outros livros. Este em especial, li de capa a capa, Vou postar aqui o poema que mais me chamou a atenção naquele livro, eu jamais o esqueci:

Os versos que te dou

Ouve estes versos que te dou, eu
os fiz hoje que sinto o coração contente
enquanto teu amor for meu somente,
eu farei versos...e serei feliz...

E hei de fazê-los pela vida afora,
versos de sonho e de amor, e hei depois
relembrar o passado de nós dois...
esse passado que começa agora...

Estes versos repletos de ternura são
versos meus, mas que são teus, também...
Sozinha, hás de escutá-los sem ninguém que
possa perturbar vossa ventura...

Quando o tempo branquear os teus cabelos
hás de um dia mais tarde, revivê-los nas
lembranças que a vida não desfez...

E ao lê-los...com saudade em tua dor...
hás de rever, chorando, o nosso amor,
hás de lembrar, também, de quem os fez...


Se nesse tempo eu já tiver partido e
outros versos quiseres, teu pedido deixa
ao lado da cruz para onde eu vou...

Quando lá novamente, então tu fores,
pode colher do chão todas as flores, pois
são os versos de amor que ainda te dou.


J. G. de Araújo Jorge, (do livro Meu Céu Interior – 1ª Edição em 1934)


A poesia enfeita nossos dias... nos faz viajar... sonhar... acreditar... amar... ver a vida mais colorida.

Dedico este post a todos e a todas que amam poesias, e dizer que fiquem totalmente à vontade para postarem em seus comentários as poesias que mais gostam ou trechos delas.

Abraços e um iluminado fim de semana...

 

blogger templates | Make Money Online

Clicky Web Analytics